O que é para mim o Natal - Parte V
Lá fora nevava, tapando de branco todo o horizonte. Mas dentro de casa sentia-se um calor intenso com origem na viva chama de uma enorme lareira. Os proprietários da enorme mansão tinham ido à missa do galo. Numa atitude condizente com a quadra, tinham oferecido a possibilidade do engripado filho dos caseiros ficar lá em casa, junto ao quentinho da lareira, permitindo assim que os serviçais mantivessem também a tradição da ida à missa naquela noite. A filha dos donos ofereceu-se para dar um olho pelo adoentado mancebo. E era ela que carregava com toros a lareira ao ponto do calor interior se tornar difícil de suportar, apesar da indumentária mais aligeirada. O rapaz, ainda febril, ostenta já um brilho na pele tisnada, derretendo naquela atmosfera. Ela vai-se despindo, cada vez mais provocante. Ele também, mas de febril e incandescente. O calor aumenta, e num tapete felpudo junto à árvore de natal, rodeados por uma muralha de prendas que entretanto desaba, ela aproxima-se sabida e insinuosa. Ele hesita, tímido e rubro. Ela insiste, insinuante. Ele ingénuo e inexperiente deixa-se conduzir:
-Afinal, onde é que a menina quer que eu ponha isto?
Para mim, isto sim é Natal......