A nova Relação do poder

O Tribunal da Relação de Lisboa absolveu ontem o empresário Domingos Névoa da Bragaparques, condenado em 1ª instância por corrupção no valor de 200 mil euros a um vereador de Lisboa, em troca de favores num negócio de terrenos.
O Tribunal da Relação admite que os factos são verdadeiros, mas absolve o empresário por ter concluído que o vereador não possuía poderes de facto para conceder o favor pretendido.
Esta decisão abre todo um novo campo de actuação ao suborno em Portugal e nos meios autárquicos a situação fica muito mais clarificada. Ao agente corruptor recomenda-se que leia com atenção todos os pelouros e competências de um dado vereador para não ter o improvável azar de acertar na ilegalidade.
Confirmada a ausência de poder de facto sobre a matéria a influenciar, é avançar despudoradamente na oferta.
Entre vereadores poder-se-á até instituir facilmente um prático sistema de permutas. Eu, o vereador do turismo, dou um toque ao colega das obras e encaixo gordo envelope, ao qual retribuirei, após palmadinha do colega, logo que ele arrume o seu chorudo sobrescrito.
Os interessados munícipes vêem os seus favores acedidos, os vereadores têm a sua influência recompensada e os tribunais ficam muito mais aliviados de processos. E tudo isto num enquadramento legal devidamente sancionado pela Relação.
Chega até a ser bonito tanta simplicidade!
O futuro da corrupção em Portugal ficará assim circunscrito a dois ou três imprudentes distraídos que sobre um qualquer negócio de terrenos se precipitem a untar o vereador do urbanismo........