Convenção "Sou de Peniche"
Conseguir congregar uma plêiade de habituais maledicentes munícipes e colocá-los a contribuir construtivamente para os projectos do concelho, confrontando-os de imediato com os condicionalismos do desenvolvimento, tem algo de meritório com o qual não posso deixar de colaborar.
Estabelecida a minha postura, vamos ao conteúdo.
Logo no começo (primeiros oradores convidados) a convenção foi enquadrada no âmbito da Região de Lisboa e Vale do Tejo e/ou da Região Oeste. Parece-me castrador, limitador, pouco ambicioso. Como alguém salientou, a vocação marítima de Peniche, como porto de pesca, capital da onda e não só, extravasa a mera posição de cidade subalterna com que os nossos colegas oestinos nos catalogaram. Peniche tem todo o direito a outorgar-se como porto de pesca nacional e ibérico de relevo, e posicionar-se como um destino ímpar de fruição de actividades ligadas ao mar, num âmbito europeu. A singularidade de se encontrar envolta pelo mar e de ser uma das cidades mais ocidentais da Europa, não se limita a uma mera curiosidade oestina.
Trata-se duma ambição a assumir, que aqui e ali foi aflorada na convenção, mas de modo algo condicionado pelo tal enquadramento inicial.
Foram variadas e interessantes as sugestões para os projectos penicheiros.
Reflectindo sobre os elementos que me pareceram mais positivos dessas intervenções, e conjugando-os com a minha opinião para o concelho, cozinhei a seguinte visão, que passo a partilhar.
Pretende-se que Peniche seja uma cidade indubitavelmente ligada ao mar, em todas as suas vertentes; na pesca, na onda, na praia. Um concelho com belas paisagens naturais, litorais, interiores e insulares, onde abunda o sol, o iodo, o oxigénio, sempre a temperaturas comportáveis, conjugados com uma saudável gastronomia, apoiada no peixe e na variada hortofruticultura da zona rural.
Um concelho respeitador do ambiente, com forte aposta nas energias renováveis, conducentes a um desenvolvimento sustentável.
Um concelho de grandes eventos e iniciativas em torno dos desportos ditos radicais, não só os já consagrados, ligados ao mar, mas todos os que possam ser praticados no concelho, numa abordagem natural.
Um concelho que aposta em Percursos Pedestres e Ciclovias e na mobilidade para todos. Uma cidade cada vez mais aberta ao peão e fechada ao automóvel.
Um concelho que possa ser um local de eleição para a realização de congressos e encontros de natureza médica e não só, baseado na situação geográfica e no apelo saudável.
Um concelho com o apoio dum pólo activo de investigação ligado às Tecnologias do Mar, susceptíveis de elevarem a qualidade de vida dos cidadãos e de contribuir com conhecimento próprio no desenvolvimento dos projectos traçados.
Tudo isto conduz a uma ideia forte de destino saudável para conhecer, visitar e viver, noção essa cada vez mais valorizada e procurada a nível turístico.
Se se conseguir afirmar este ideal e criar uma qualidade de vida para os locais e visitantes que com ele se coadune, está montada uma dinâmica de atracção que pode catapultar Peniche como destino de referência.
Não basta porém ter ideias e delinear projectos. São necessários investimentos para a sua concretização. Os financiamentos públicos são escassos, morosos e com um ritmo que fica muito aquém do desejado. É importante que depois de sintetizados os rumos que esta convenção produzir, a iniciativa tenha continuidade junto de empresários, de preferência locais, sem o que não se conseguirá a celeridade de investimento que Peniche necessita para acelerar o seu crescimento.
Para isso é necessário vencer uma certa desconfiança vigente e, pegando nesta "teca" de ideias e projectos, colocar as cores penicheiras como o principal “alador” do nosso desenvolvimento.