Rescaldos de Agosto (I)

Para os penicheiros que contam com a habitual feira mensal e que têm pouca apetência para diversões do tipo carrossel, o arraial da Festa de Nossa Senhora da Boa Viagem constituía-se como um lugar de convívio e confraternização com aqueles amigos e conhecidos que, muitas vezes só mesmo aqui, se reencontram após prolongada ausência.
Tratava-se dum lugar onde era possível a fruição da amizade penicheira e contagiar com isso os forasteiros.
Nos últimos anos os feirantes e as diversões tem travado uma luta pela instalação sonora mais potente, pelo baixo mais trepidante, pela chinfrineira mais ululante, a que a muralha próxima dá particular ressonância.
É impossível o diálogo nestas condições, e nalguns locais o ruído ronda mesmo os limites do sofrimento.
Só mesmo a linguagem gestual granjeia ali algum sucesso.
Na iminência de nova deslocalização do local do arraial em consequência das obras do fosso da muralha, seria um bom momento para se questionar as vertentes profanas da festa.
A começar pelo ruído, onde se deverá equacionar algumas tendências de locais mais civilizados onde, à excepção de concertos, os arraiais são em versão silenciosa, também dita "unplugged", com total proibição de amplificação sonora.
É decerto um conceito vanguardista.
Estará Peniche preparado, ou preferirá continuar em competição na estridente saloiice?