Saindo aos seus...

Foi recentemente aprovada pela Assembleia Municipal de Peniche uma proposta que visa fundir as três freguesias urbanas da cidade, no âmbito da reforma administrativa do território. A futura freguesia de Peniche abarcará as anteriores freguesias da Ajuda, S. Pedro e Conceição, mantendo o mesmo edifício sede (já anteriormente partilhado). Numa fase de contenção de despesas por parte do Estado, esta parece ser uma medida possível, tanto mais que não existe na zona urbana de Peniche quaisquer bairrismos exacerbados, nem mesmo um reconhecimento dos limites territoriais vigentes. 

Já não estarei completamente de acordo com a inexistência de identidades próprias em certas zonas da cidade, contrariamente à argumentação usada no documento. Se bem que não coincidente, a freguesia da Ajuda engloba uma zona historicamente designada por Peniche de Cima que, no que toca a identidade própria, é seguramente o local mais assumido da península penicheira. Os seus naturais reconhecem-se orgulhosamente enquanto tal, comungando dum determinado conjunto de características e valores comuns que cimentam essa identificação. A lealdade, amizade e solidariedade serão talvez os mais evidentes. Mas são características como o bairrismo, para o melhor e para o pior, a picardia alegre e inconsequente, o motejo permanente e inerente a todas as saudações, os epítetos frequentes e certeiros, e uma alegre cumplicidade e empatia, que encerram uma forma peculiar de relacionamento enquadrada por variadas referências culturais identificadas com esta zona da cidade. Independentemente das reformas à divisão do território, a antiga Peniche-a-Velha, primeira fundação na então ilha de Peniche, atual Peniche de Cima, foi, é, e será, um local com uma tradição, uma história, uma identidade própria que os seus locais preservarão como valores muito mais fortes que quaisquer linhas marcadas em efémeros mapas administrativos.