segunda-feira, novembro 06, 2006

Bonança extemporânea

A tarde de ontem, solarenga, convidou ao passeio. Peguei na BTT, sacudia-a da sua já avançada hibernação, e pedalei torneando a península. Perto do Cabo encerrei com dificuldade a temporada da camarinha, com os raros espécimes que ainda existiam, e subi esforçado o último declive até à zona do farol. Havia automóveis por todo o lado, arranquei de novo e rumei pela marginal Norte. O panorama era fantástico, mesmo para quem está habituado a contemplar a invulgar costa penicheira. Ao fundo a Berlenga e os Farilhões mostravam-se ao pormenor apesar da distância. O tempo estava quente, mas sentia-se uma humidade latente que aguçava a acuidade visual, ao ponto de se conseguir vislumbrar os contornos da Fortaleza de S. João Baptista. O mar quedo favorecia a beleza da paisagem e facilitava a contemplação do conjunto. Quis ver tudo. Pedalei rumo à baía de Peniche de Cima com o Baleal. Atalhei pela Praia do Quebrado e no topo da muralha do Baluarte da Gamboa apeei-me, subi a guarita e fiquei ali imóvel, deslumbrado com o cenário. O céu dum cinza prateado, luminoso, imenso, eterno, igual até ao horizonte, onde num quase imperceptível cambiante de cor adquiria uma tonalidade um tudo nada mais plúmbea que voltava para mim rasteira, imóvel, constituindo o mar. Fora destes planos havia muita luz, mas mesmo essa luz era metálica como que embebida em mercúrio luminescente.
E depois havia a paz. Como que uma pausa no mundo bulicioso. Um hiato na azáfama. Sem nada mais. Só mesmo a pausa silenciosa, acolhedora.
Duas horas depois caiu a estrondosa tormenta.
Um pequeno preço a pagar por tão ímpar momento.

3 contributos:

At 6/11/06 16:05, Blogger xf disse...

o que é pena, é teres deixado a máquina fotográfica em casa...

 
At 6/11/06 17:25, Anonymous Anónimo disse...

Que saudades eu tenho dessa descrição. Parece que ainda lá estava.

 
At 7/11/06 19:17, Anonymous Anónimo disse...

Há coisas que ficam só para nós....não se pode partilhar tudo.

 

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