Sempre gostei de apreciar uma boa fotografia!
Daquelas que nos deixam extasiados, pensativos, emocionados ou revoltados.
Sempre me esforcei por também conseguir produzir um desses rectângulos, capaz de pela sua força, valer mais que milenas verbais.
Mas tenho de me assumir como um fotógrafo medíocre. Ainda poderia endossar as culpas aos aparelhos onde tentei o sucesso, mas seria uma evasiva para a cruel realidade de que, na história da imagem estática, não constará o meu nome.
Mas não foi por falta de esforço, não!
Comecei bem cedo, com uma máquina de tal modo sofisticada, que era oferecida pelas Selecções.
Mas foi graças ao parco valor da oferenda, que me foi facultado o seu pleno uso.
E era assim que na adolescência, a despropositadas horas, eu me deslocava a locais ermos, escolhia os mais escusos enquadramentos e, pacientemente, esperava o fim de tarde.
Desde o início que soube engajar a namorada nestas andanças, convencido de que em breve careceria de assitência para transportar máquinas, objectivas, tripés e outros artefactos a que a minha imaginação dava "asas".
Ela tremia de frio e aninhava-se em mim, tentando sugar o calor que minguava no escarlate horizonte.
E então, quando a coroa solar estava prestes a desaparecer por detrás das Berlengas, saltava do meu esconderijo, escorregando nas pedras cheias de algas da beira-mar, assustava os pobres caranguejos que modorravam no ensejo e, em contorcida pose artística, lá tirava uma ou duas fotos no máximo, no tempo que mediava entre a última réstia de luz solar e a escuridão total.
Excitado, voltava ao recôndito poiso, abraçava a tiritante assistente, e no silêncio da noite, ainda com a visão toldada pelo escuro, festejávamos o sucesso da nossa missão.
Não, nunca fui grande fotógrafo....
foto de jp, 1978