Viesses tu, Poesia
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e o mais estava certo.
Viesses no deserto,
viesses na tristeza,
viesses com a Morte...
Que alegria mereço, ou que pomar,
se os não justificar,
Poesia,
a tua vara mágica?
Bem sei: antes de ti foi a Mulher,
foi a Flor, foi o Fruto, foi a Água...
Mas tu é que disseste e os apontaste:
- Eis a Mulher, a Água, a Flor, o Fruto.
E logo froam graça, aparição, presença, sinal...
(Sem ti, sem ti que fora das rosas?
Mortas, mortas pra sempre na primeira, mortas à primeira hora.)
Ó Poesia!, viesses
na hora desolada
e regressara tudo
à graça do princípio...
(Poema de Sebastião da Gama, fruto da (minha) redescoberta do poeta no Verão que é Poesia, em boa hora vencedor do meu tetralema de sexta à noite. )
(Imagem: Bridge over the Riou, 1906, André Derain)